O ser humano que hoje sou e a profissional que me tornei, devo essencialmente à minha família que me conduziu pelos caminhos da vida. As recordações da infância são muitas, espelho meu ser na energia e tenacidade da minha querida dinda-avó, que é a grande referência em minha trajetória como mulher, mãe e profissional.
Sempre fui muito sozinha... ao ler a história do homem que buscava encontrar sua “ilha desconhecida”. Percebi que o homem não é uma ilha. Ele necessita relacionar-se para conhecer-se mais e melhor. Atualmente o mundo tornou-se uma grande “ilha virtual”, onde o ser humano está à procura de si mesmo. A ilha desconhecida está dentro de nós. Ao mesmo tempo, conforme Descartes, a vida é uma eterna busca, cercada de “ilhas desconhecidas”, novos horizontes para desbravar (mundos).
Nada é pronto e acabado. Estamos sempre em busca do novo. O ser humano transcende o espaço e o tempo. É um ser que caminha para a eternidade. Tem fome e sede de saber, por esse motivo a empregada resolve seguir o homem e sai pelas portas das decisões. “Conhecimento e compreensão são coisas apaixonantes, que nos levam a participar intensamente do mundo em volta de nós e dentro de nós” (ZOHAR, 2000, p. 271-272).
Sou professora, mesmo com todas as adversidades da atualidade, gosto de ser professora. Sinto saudades dos meus ex-alunos e ex-alunas, fantásticos personagens da minha trajetória escolar, por terem cruzado o meu caminho e terem impresso um pouco de si no meu “ser professora”, principalmente por que percebo que as relações estão mudando na escola, estão ficando muito impessoais. Sou uma pessoa movida por sentimentos. Sinto prazer e alegria quando estou em sala de aula.
Há momentos, no entanto, em que a solidão e o stress invadem as pessoas que como eu escolheram esta profissão. Nesses momentos tenho vontade de sair gritando e provavelmente se pudesse sair de barco a procura da minha “ilha desconhecida”. A insegurança com relação ao futuro. Será que irá mudar? Seremos valorizados algum dia? Esses sentimentos com relação ao futuro que nos espera é angustiante e preocupante.
Penso nos meus filhos, Giulliano (14 anos) e Giuseppe (5 anos), o que a vida reserva para eles? Como o mundo e as pessoas estarão daqui a 10, 15, 20 anos...? Quais os sentimentos que irão mover as relações no futuro?
Trabalho na E.E.E.M.Dr. Genésio Pires, localizada na zona rural do município de Viamão. Convivo com muitas pessoas, com diferentes concepções de vida, de família e de “ser professora”. Essas diferenças, as vezes, me desestimulam. Outras vezes motivam meu caminhar... “Os laços sociais são valiosos para a saúde e o bem-estar”(PAPALIA;OLDS, 2000, p. 428).
Continuo como professora por acreditar na educação, por acreditar que sempre há tempo, que é possível melhorar e que existem caminhos. Esta ilha existe, precisamos buscá-la com coragem, a mudança começa em nós mesmos. Como Papalia e Olds acredito que há uma inteligência responsável por esta percepção, por este cuidado e compreensão de si mesmo.
A inteligência emocional inclui a própria compreensão de si mesmo, a compreensão dos outros e a capacidade de regular os sentimentos. Essas habilidades podem desempenhar papel importante no êxito da vida (2000, p. 396).
Considero ser hoje uma mulher mais questionadora e reflexiva diante dos acontecimentos do cotidiano. Penso mais antes de agir, dificilmente preocupo-me com questões sem importância. Procuro viver plenamente, curtir minha família, meu marido, meus filhos, meus amigos e amigas...Valorizo mais minhas realizações, MINHA VIDA... A família é para mim a base de tudo.
Quando encaramos o tempo com serenidade e conservamos acesa a curiosidade, continuamos aprendendo, consolidando sabedoria, ampliando a visão, relativisando conceitos. Na grande viagem da vida, quando alguns caminhos se fecham, outros se abrem (GOLDIN; MALDONADO, 1995, p. 8).
É preciso resgatar o verdadeiro sentido da vida, além do aspecto material, o homem necessita do espiritual. A dualidade corpo e espírito, conseqüência do pensamento científico tornou o homem egocêntrico, fechado no seu próprio mundo. A única opção é abrir-se ao novo.
O meu “Ser professora” caracteriza-se por um processo de constante procura por novos conhecimentos que permitam tentar explicar e entender as relações existentes no ambiente escolar. Acredito ser fundamental que o educador ou a educadora esteja preparado(a) para envolver-se profundamente no processo de construção do seu próprio conhecimento, que seja capaz de aceitar rupturas e que aprenda a investigar sua prática docente, visando a qualificação profissional e, conseqüentemente, a melhoria de ensino. Esse é o modo como entendo que se construiu e se constrói o meu “ser professora”, um processo de incessante busca, de rupturas, de aprendizagens, de construções...
REFERÊNCIAS
GOLDIN, Alberto; MALDONADO, Maria Tereza. Maiores de 40: guia de viagem para a vida. 1. ed. São Paulo: Saraiva, 1995.
KORCZAK, Janusz. Quando eu voltar a ser criança. São Paulo: Summus, 1981.
LDB 9394/96
PAPALIA, Diane E.; OLDS, Sally Wendkos. Desenvolvimento Humano. 7ª edição. Porto alegre: Artes Médicas Sul, 2000.
SARAMAGO, José.
O conto da ilha desconhecida. São Paulo: Companhia Das Letras, 1998.
ZOHAR, Danah. MARSHALL, Ian. QS: inteligência espiritual. Rio de Janeiro: Record, 2000.